domingo, 23 de janeiro de 2011

Omelette du Fromage

            Essa semana, lembrei-me das primeiras palavras francesas que aprendi na vida. Não foram nem bonjour, nem merci beaucoup. Foi Omelette du Fromage, ou omelete de queijo. Elas aperecem em um desenho animado do Cartoon Networks, que marcou minha infância, chamado O Laboratório de Dexter. Adorava a Didi, a irmã do Dexter, e principalmente quando ele dizia para ela não apertar o botão, que óbvio, ela não podia deixar de fazê-lo.
            Nesse episódio, Dexter tem que estudar para a prova de francês, mas também tem várias tarefas a completar em seu laboratório. Como não sobra tempo para estudar, ele coloca um cd para escutar enquanto dorme ao mesmo tempo. O cd só repete as palavras Omelette du Fromage - que é um pouco equivocado, a forma correta é Omelette au Fromage; mas se tratando de um desenho estadunidense, iremos relevar. Enfim, omelette du fromage torna-se a chave de todo o sucesso de Dexter durante o episódio. Achei a versão francesa no youtube: Episódio Omelette au Fromage !


            Enfim, tudo isso para dizer que ontem visitei uma pequena fábrica de fromage, e me lembrei do omelette lá. Era um passeio da universidade para os estudantes estrangeiros. Um pretexto para fazer que os estudantes estrangeiros conheçam  outros estudantes estrangeiros, já que os franceses são tímidos ou fechados ou esnobes ou seres superiores, enfim. Conheci mais brasileiras e algumas americanas. 
            Bem, o passeio durou o dia inteiro. Começou quando ainda tinha uma baita lua minguante e estrelas brilhantes no céu da praça Bellecour, umas sete e meia da manhã. Como tinha previsto, só mulheres. Ok! Tinha 4 guris para 20 gurias. Pensei que iriam ter mais chineses. Apenas um casal oriental. Eram mais italianas, brasileiras (1 brasileiro), americanas e espanhóis. 
             Acordar  num sábado, num frio negativo, pra visitar fábrica de queijo, uma casa de broderies (borados maneiros e difíceis de fazer) e um museu de como os camponeses sobreviviam no séc. XVIII... é só pra pessoas que, como eu, amam programa de índio.
             A gente visitou uma cidadezinha histórica, chamada Cervières. Temperatura menos 7˚C, depois ficou melhor, menos 5˚C. Itinerário do dia:

  • Maison des Grenadière; casa de bordados à ouro e prata, a arte de costurar em detalhes minuciosos, utilisando fio de ouro e prata. Antigamente para Marinha, Exército e Aviacão. Hoje, para a haut-côture francesa (Channel, Gautier, Dior e cia).
  • Fábrica de Queijo de La Fourme de Cervières; fábrica de queijo caseira e rural com alguns equipamentos tecnológicos. Eles compram o leite de 3 fornecedores, e fabricam o queijo gorgonzola, o La Fourme de Montbrison, de maneira familiar.
  • Maison Faure Vincent Dubois; casa do séc. XVIII, preservada do jeito que era, deve ter visto até a revolução passar, o Napolão passar e até o general Pétain passar, o que ia está fazendo meio das montanhas francesas, eu não sei. Mas até eu passei por lá, então, por que não?!
              Para interagir uns com os outros, havia um jogo proposto pelo responsável de ajudar os gringos na França, Antoine Ramon, gente boa. O jogo, não. O jogo era pegar um papel com um nome de alguém e com uma palavra atrás. Você tinha que ir até a pessoa do papel, conversar com ela, e fazer com que ela falasse a palavra, feito isso você "mataria" a pessoa e ficaria com seu papel, depois ir até a próxima vítima. 
              A pessoa que eu tinha que matar era brasileira. Daí, pensei: putz! como vou fazer pra que ela diga Vacances? Mas desisti do jogo, porque já estava conversando com um monte de gente, até mesmo com a minha vítima. O objetivo era esse afinal!

              Ainda estou em pequenas vacances. Marco voltou de Guadalupe e Floriane de Hamburgo hoje. Eu e Sabrina vimos Hereafter hoje. O padeiro nos deu uma entrada para o salão de gastronomia de Lyon, onde tem o Concours Bocuse D'Or. Talvez iremos na quarta.

             Sei lá, mil omelettes du fromage!

.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

França sino-americana

            Lembro de ter escutado muito antes de vir pra cá que a França é um daqueles países que preserva sua cultura intacta e que pouca influencia recebe. Mentira! Não existe país assim. Eles usam mais palavras em inglês do que eles possam imaginar. Eles só dizem com sotaque peculiar deles para falar inglês. Verdade: a maioria deles não falam inglês. No Brasil também, mas a gente tem mais paciência e boa vontade para tentar entender o gringo, ou para dar informação, mesmo que errada (o carioca que o diga).

            Aqui há muitos imigrantes e estrangeiros turistas, todos atraídos por esse país. Seja pela francofonia, seja pela Champs-Élysées. Paris é uma cidade cosmopolita, queira os franceses ou não. É cheio de gente estranha e esquisitamente normal, não chega ser uma Londres. É decadente, muito balzaquiana. Mas linda na sua miscigenação involuntária. Os prédios também tem sua beleza, da arte gótica encrustrada na Notre Dame à bauhaus evidente do Centre Pompidous.

            Além disso, aqui tudo é feito na China. Tenho lá minhas dúvidas quanto aos queijos e vinhos. Talvez eles produzam secretamente e reembalam aqui dizendo ser francês. Vai saber?! Talvez Champagne nem seja uma região francesa, e sim chinesa. Prefiro o proseco brasileiro. Mentirinha. O vinho "francês" é bom sim e custa uns 6 reais a garrafa.
            Por falar em chinês, aqui tem um monte também. Mas aqui eles não abriram pastelaria, uma pena. Eles abriram loja de roupa, sapatos e acessórios femininos prêt-à-emporter. Eles abriram restaurantes à volonté, em que você requenta no microondas. E um tipo de self service que não é você quem serve, mas sim a chinesa atrás do balcão, com preço à kilo. E alguns supermecados também que vendem comida asiática e exótica no geral. Compro meu furikake num desses, localizado no bairro árabe, Guillotière - Gabriel Péri - anuncia a moça do metrô: connection tramway 1 direction IUT Fessyne-La Doua, ou Montrochet. 


            Pequenas vacances agora, as aulas recomeçam dia 31 de janeiro. Mas aproveito o momento para enviar CV e Lettres de Motivation para empresas audiovisuais da região. Aqui pertinho tem um estudio de cinema. Studio Lumière fica em Villeurbanne. É onde eles fazem isso : isso! Vamos ver no que dá! Enquanto isso vejo BBB11 pela internet e revejo Malcom in the middle.

             Sei lá, mil chineses! Opa, um bilhão de chineses ou mais!

.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Premier première

            Premier post de l'année. Primeiro post do ano. De primeira, desejo a todos um bom ano. É assim que os franceses dizem: Bonne Année. Nem ótimo, nem médio, apenas bom. Nem desejar um Feliz Ano Novo eles fazem... bando de gente triste. A maioria pelo menos. No inverno, é um eterno velório, todos de preto, todos entretidos consigo mesmo no metro. Talvez esteja pegando pesado com os franceses, mas foram eles que começaram. 
            O transporte público funciona, a comida não é tão ruim (não tem como massa folhada ser ruim), mas as pessoas são bizarramente frias e pouco receptivas. Mas é a França. C'est la vie! C'est la France! C'est normal! Conheço 5 franceses legais! (Aurélie, você não é assim! É exceção!) Eles não dão oportunidade para conhecer novas pessoas. Eles são racistas, conservadores, retrógrados e arrogantes, os que votaram no Sarkozy, claro. O presidente que fala: Casse-toi alors, pauvre con! (Vai te catar então!). Segundo a Paula, as pessoas são mais educadas que na Espanha. Eu acho que o Bonjour deles é automático, força do hábito. Às vezes, eu fico no vácuo, acontece.
            Uma coisa da França e um dos motivos de eu estar aqui: o cinema. Não era première, aliás o filme já está há um tempo em cartaz, Fui ver Potiche (Dona de casa francesa), do François Ozon, e achei ótimo. A França é legal, mas às vezes cansa um pouco. Não nasci para engolir sapo cotidianamente. Eles não engole sapo, porque eles comem de verdade em algumas refeições requintadas, e porque eles sabem responder grosseiramente uns aos outros. Eu não consigo ser assim. Então, eu só digo obrigada pela atenção e tchau.
            Nesses dias em que uma infecção bacteriana tcheca me pegou eu revi : Glee 2a temporada! Adoro! Outra coisa legal da França, se você paga o seguro social, que é em torno de 30 euros por ano, você tem direito de quebrar as coisas dos outros e fazer com o que o governo te ajude no conserto. Claro, tem aquela burocracia (uma outra história que contarei mais tarde). Mas na França, nada é simples como um bom dia, expressão que eles usam aqui. (Simple comme bonjour!)
          Eu quero praia! Fica aí um desejo perdido na rede virtual desse louco mundo, um dia pertencente e exclusivo à Microsoft. 


          Sei lá, mil franceses!