quinta-feira, 28 de abril de 2016

5 anos dos 4 dias que significam o agora de hoje

Há exatos 5 anos também numa quinta-feira, vim à Berlim pela primeira vez. Dia 28 de Abril de 2011. Estava morando na França e escrevendo muito nesse blog. Desde que me mudei para cá em 2013 escrevi muito quase nada aqui. Escrevo muito em papel na verdade. Enfim, parece que minha narrativa aqui é um tanto não-linear tal e qual converso com alguém aqui e as pessoas ficam loucas e confusas comigo. Sei lá, são mil coisas na minha cabeça. 

Como estava dizendo, Berlin há 5 anos. Vim para ficar 4 dias e o que dizer dessa cidade que mal conhecia e que ainda me surpreende a cada dia que se renova que se reinventa que se questiona que se engaja que é fora da norma que é queer que ama cachorro que é suja que é gentrificada que é autêntica que copia que é tudo e nada ao mesmo tempo. 

Eu não escrevi nesse blog por quase 3 anos quase nada, acho que esse será um longo post. Espero que leiam até o final e comentem por favor qualquer coisa, nem que seja pra falar que ficou uma merda.

Friozinho básico de vez em quando e mesa de tênis de mesa.
Foto: Dezembro 2014

Berlim me encantou desde o princípio. Quando voltei ao Brasil do meu intercâmbio, coloquei um postal de Berlim na parede e olhava toda vez que acordava por 2 anos foi isso. Tinha a vontade de vir morar aqui, vivenciar o que eu nem sabia que iria vivenciar aqui. Algo estranho que acontece em nossas vidas, como um chamado sem voz mas que tem que ser ouvido e atendido. Hoje não sei se fiz certo. Mas a vida é assim né? Cheia de escolhas e caminhos. Não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ter duas vidas diferentes ao mesmo tempo. A vida aqui é boa. A minha vida aí em Niterói era boa também, não precisava colocar e tirar um monte de casaco em cada lugar que entrava. Não precisava falar alemão-inglês-espanhol e não precisava fazer cara estranha para um monte de idiomas que aqui tem, que a gente nem sabe de onde é (nem faço mais cara estranha). Não precisava passar frio esperando o ônibus/metro que vai chegar em exatos 3 minutos. 


Cidade das arte com/sem sentido
 exposição fotografia cinema festival sarau
com homem pelado yoga com cerveja eventos
do to com projetos aí mas trabalho num bar
Berlim, tanta coisa, que fico confusa sobre o que escrever aqui. Esses 4 dias de 5 anos atrás foram incríveis. Primeira vez e até agora a única vez que viajei sozinha sem companhia para a ida e volta. Mas não significa que fiquei sozinha o tempo todo. Fui a um encontro do Couchsurfing na primeira noite e encontrei pessoas legais que me deram dicas do que fazer. E fui ao karaoke do Mauerpark, onde vi um cara muito louco bêbado/high com tatoo tribal na cara. Fui ao primeiro de maio sem saber que aqui o Primeiro de Maio não é só um dia de manifestações, confrontos com a Polizei e dia do trabalhador, mas como é também um dia de festa, de musica na rua, de integração, e eu, inocente, achando que algumas pessoas que usavam pouca roupa, estavam bêbadas demais para se importarem com o frio, mas que, na realidade, tinham cheirado ou tomado algum negocinho e estavam apenas curtindo uma batida de techno na delas. 

Moda/estilo atemporal

Por falar em drogas, aqui quase não há tabu em se falar sobre o tema, ou sobre qualquer outro tema também. Fico feliz em conhecer várias pessoas aqui que debatem sobre tudo e tem uma visão crítica sobre o mundo em que vivemos. E não fica só no debate, muitos se engajam mesmo e tentam fazer a diferença. Há o questionamento sobre a gentrificação e uma alternativa a isso: as Projekthäuse - casas projeto, em que várias famílias dividem um andar de um edifício e compartilham áreas comuns para baratear custos. Questionamento sobre o consumismo demasiado então há pessoas, que consomem menos, que trocam suas coisas, que não usam mais e colocam no grupo do facebook Free Your Stuff Berlin por exemplo. E quando há uma meia dúzia de neonazis protestando, há milhares de pessoas protestando contra. A bandeira nacional é má-vista, como símbolo de patriotismo e nacionalismo e eles não querem mais isso. Quando falo que, no Brasil, há esse orgulho pela camisa da seleção brasileira e que, infelizmente, há uma ala conservadora e fascista aí, meus amigos daqui ficam chocados (mas aqui também tem conservadores - PEGIDA e AfD). Aliás muitos europeus que realmente não tem noção de o que foi a História da América Latina, ficam chocados quando digo que, por exemplo, no Brasil não é bem lá essa história que venderam de que a gente é gentil e dócil e um povo feliz sem racismo. Arram, Cláudia! 


Quando faz calor de Rio de Janeiro.
Aliás cadê ssaporra de verão?!
E quando eu falo que qualquer um poderia ser brasileiro, muitos não entendem. Muitos nem sabem que os japoneses ou até mesmo os próprios alemães imigraram para aí. Pensam primeiro que sou da Filipinas ou Tailândia, depois chutam um Chile ou Bolívia, que tá mais perto de onde sou mesmo. Mas metade Japa, é improvável de eles acertarem. As vezes brinco e falo que sou prima da Björk. Brinks nunca fiz isso, mas da próxima vez vou fazê-lo rsrsrs
Rola ainda de vez em quando um: no Brasil se fala português né? Sim, minha querida.


Esse dia foi loko, reabriu a linha do metro
 com a estação perto da minha casa Hermannstraße.
As obras demoram por aqui também às vezes.
Sei lá, às vezes vou contar a história do brasil em alemão pela minha perspectiva... me enrolo toda, nem sei se estou certa, e ainda mais falando nessa língua estranha. Me confundo muito. E agora então, que estou na faculdade, quando vou falar, é sempre meio incerto. Uma vez, o professor perguntou algo, e a resposta, eu sabia, mas não falei, dai o garoto respondeu: Melodrama. Damn it! Eu sabia essa.
Ainda não tenho tema para minha tese de dissertação. Mas será melodramática com certeza. Também to envolvida nuns projeto aí de filme e série (em breve online). Já fiz figuração nos Jogos Vorazes e num filme de Connie Walther, Die Hochzeit meiner Eltern (O Casamento dos Meus Pais). Aliás, hoje vou à Premiere do filme com meu colega de república Nils Malten, que também atuou, mas ele é ator de verdade, fez mais coisa no filme obviamente.

Berlim é uma cidade com tudo quanto é tipo de gente. E tu tá envolvida com artista, Morena?! Pois é, estou. Conheço um monte que é e um monte que não é também, mas cada importa. E cada conexão que fiz aqui me inspira. Escrevo muito, mas nada concreto. Queria botar em prática as aulas do Tunico e fazer meus roteiros e vender minha arte com as coisas que a natureza me dá. Eu só tenho a agradecer por tudo que me aconteceu até agora e jogo pro Universo pensamentos bons pelo que está porvir. Gratidão: palavra boa. E queria desejar a todos os leitorxs que leram até o final e tentaram entender esse texto, esse vendaval de informações, tudo de bom e eu queria dizer também que eu amo todxs vocês, e desejo coisas boas para vocês, e que não desanimem, nem com a situação atual do Brasil. Nós podemos tirar algo de positivo de cada experiência e de cada dor/sofrimento. Sejamos resilientes e corajosos :)

Sei lá, mil coisas doidas e não-doidas ao mesmo tempo!

PS: ia colocar que dia 29 de abril de 2011 (que também foi numa sexta igual a esse ano) a Kate Middelton se casou com aquele príncipe e eu ia colocar no texto essa info, não rolou contexto, tô colocando no final mesmo, enfim, lembro pq pareceu na tv do hostel, pq guardei isso na memória? sei lá.

 .







5 comentários:

  1. vim aqui comentar pra dizer que o texto é inspirador.

    bonito tudo isso.

    continue escrevendo e vamos viver a vida que ela é linda.

    beijos

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  2. Lembro de quando eu fui te visitar, realmente é uma cidade única! Nunca vou me esquecer de que no primeiro dia em Berlim nós quase fomos presas! O cara com camiseta escrito pastel naquela feira de domingo, e a gente
    Morrendo de fome, fui perguntar onde era a barraca do pastel e ele me diz q trocou as camisas com um cara de uma barraca na beira da praia na Bahia. Aquele calor insuportável de julho e a gente tentando entrar em uma piscina pública, ficamos na fila um tempão pra saber que estava lotada. Enfim acho que tem experiências que só Berlim pra te proporcionar. Saudades suas e das nossas aventuras!
    Ps: amei o texto ����

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  3. Comento só pra você saber que li tudo. Inspirador. Eu tb to por aqui, alguns anos em outro país agradecendo os encontros e a vida. Feliz vida! =)

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  4. Junia, admiro sua coragem. Somos tão diferentes... Mas cada um na sua curtindo a vida ao seu modo. Siga firme!

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